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Monday, November 3, 2008

RESÍDUO - Carlos Drummond de Andrade

Resíduo
Carlos Drummond de Andrade
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um poucode ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão.
Às vezes um rato.

23 comments:

Sonia Schmorantz said...

Esta é uma fase de Drummond em que ele estava muito decepcionado com o mundo mesmo..Mas é um rico poema, pouco lido, mas retrata bem as questões sociais.
Obrigado por tua presença em meu espaço, virei aqui muitas vezes também.
Um abraço

Crista said...

Tu tens classe...magnífico passear por aqui ao som dessas músicas maravilhosas!!!!!

Marcelo Novaes said...

Sandra,




Botão ou rato, tudo deixa rastro. Ou sobras.






Beijos,







Marcelo.

Cristal de uma mulher said...

Perfeito Sandra teu canto é a formosura de toda literatura

www.rachelrochaomena.blogspot.com

AFRICA EM POESIA said...

Passei por aqui e gostei muito
um beijo e obrigada pela poesia...

DOIS E DOIS


Eu sei que dois mais dois
São mesmo quatro
E que com pouco
Se consegue fazer muito


E com dois e dois
Eu faço vinte e dois
E sinto que aumentei
O sorriso do teu rosto


E então peguei em vinte e dois
E multipliquei-os, porque queria
Ver os olhos brilharem
Como fonte de energia


E novamente resolvi
Que dois mais dois são quatro...
Tão simples como a vida...
Tão simples com o teu olhar...


E afinal...
Dois e dois são mesmo quatro...

LILI LARANJO

José Heber de Souza Aguiar said...

Olá, Sandra. Muito bonito teu espaço. Tem poesia da vida aqui. Um abraço. José Heber www.joseheber.blogspot.com

paula s. said...

Incrível o amor que você tem pela arte.
Na minha opinião se todos fossem amantes da arte o mundo seria diferente.
Mas ainda bem que há pessoas como você, como eu, que amamos isso. rs

Muito bom seu blog, e obrigada por seguir o meu.

Beijos

Divinius said...

Lindo post....

Emília Pinto said...

Olá Sandra. Fiquei contente ao ver que visitas o começar de novo. Mais uma maneira de lembrar o meu querido Brasil; morei aí, em Guaratinguetá, SP 14 anos e tenho um filho e uma filha braileiros. Os meus pais e irmão ainda vivem aí e pt continuo muito ligada ao teu país. Gosto mt de Carlos Drumond; publiquei já algumas coisas dele no meu blog; não conhecia este « Residuos », mas gostei muito. De todos nós também vai ficar um pouco..; vai depender do que fizermos enquanto cá andarmos, não é verdade? Um beijnho e obrigada. Voltarei com certeza.
Emília

Anonymous said...

Olá...andei visitando seu blog. Lindo como sempre. Tenho novidades em alguns blogs. Estou com 05...rs.
Passei para te deixar um beijo.
Alessandra

O Profeta said...

O amor cobre e descobre o seu rosto feliz
Um beijo anda solto de um sopro puro
Dois amantes dividem uma maré de espanto
O desamor ergue na vida um frio muro

Uma estrela do mar percorre o azul
Uma estrela no céu anuncia a claridade
Uma longa espera arrocha o peito
Um suspiro solta a incontida saudade

Ofereço-te uma estrela do mar


Mágico Beijo

Graça Lacerda said...

Sandra, linda artista:
creio que não seja preciso repetir que teu blog é cheio de classe, cultura, emoção, deslumbramento.
E tudo isso regado a uma simplicidade de tirar o chapéu!
És um ser humano necessário, minha querida, e estou muito grata por me convidar a conhecê-la de perto...
Estou muitíssimo mais enriquecida agora!
Peço-te que me lembres, sempre que quiseres, de visitar este teu lindo canto!

Cria said...

Muito bom, adoro Drummond ! Obrigada por teu carinho. Beijos e o desejo de uma semana feliz.

Beatriz Prestes said...

Poesia que tem a mais plena vida!
Drummond sabia colocar em palavras, em versos, tudo que vai na alma de muitos!!
Belíssimo!
Beijo carinhoso Sandra querida!
Bea

Graça Lacerda said...

Sandra,
é sempre um prazer visitar um blog como o seu, cheio de arte e cultura.
Nem foi preciso lembrar-me, retornei, pelo simples fato de ter apreciado.
Grata por ele.

O Profeta said...

A meiguice dos teus olhos
Enternece a alma mais dura
Sei-te em cada batida de coração
Na verdade da água pura

A verdade da terra
De verdadeira verdade se veste a tua alma nua
O mundo conhece teus passos
O teu destino impresso nas pedras de uma rua

Mágico beijo

O Profeta said...

Parei na viagem de rumo e estrelas
Sentei-me à beira de uma lagoa sussurrante
Um Milhafre fitou-me zombeteiro
Hesitei na procura do adiante

Na ilha há sempre uma criatura em vigília
Há sempre um feiticeiro vento
Há sempre uma flor que a alma seduz
Há sempre no acontece um mágico momento


Bom domingo


Doce beijo

J Araújo said...

Passei para desejar bom final desemana.

Bj

O Profeta said...

À volta desta fogueira
Aquecem os corações, almas penadas
À volta desta fogueira ninguém foge
Todos contam lendas de pessoas encantadas

Todos rezam, todos pedem
Que desça o céu à terra
Todos falam de um anjo
Que travou uma santa guerra

Manto de água, mundo verde
Manhãs de sol posto no céu
Às vezes a luz perde-se na noite
À vezes um coração veste um negro véu


Mágico beijo

J Araújo said...

Professor, passei aqui para deixar esta msg: O Natal é um dia festivo e espero que o seu olhar possa estar voltado para uma festa maior, a festa do nascimento de Cristo, ou naquilo que você acreditar dentro de seu coração.

Que neste Natal você e sua família sintam mais forte ainda o significado da palavra amor, que traga raios de luz que iluminem o seu caminho e transformem o seu coração a cada dia, fazendo que você viva sempre com muita felicidade.

Feliz Natal
São estes os meus mais sinceros desejos.

Bj

Anonymous said...

Bellas. Hermosas letras. Feliz 10.

Blog da Mary said...

Desejo que no Ano Novo que se inicia você realmente...

Ouça as palavras que sempre desejou ouvir .

Pronuncie as frases que um dia desejou repetir.

Sinta a emoção que sempre esperou sentir.

Caminhe pelos trilhos que um dia desejou seguir.

Divida o carinho com quem sempre desejou repartir.

Abrace todos os amigos que sempre desejou reunir,

e viva a vida que sempre sonhou existir...

Um Abraço

"Feliz 2010"

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) said...

Sandra,
Seu blog é daqueles que se descobre e se é descoberto no mesmo momento.
Vir aqui será sempre quase uma odisseia, quase sempre. Virei, então.

Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.